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21 juin 2006

Era uma vez três irmãs, Jorge Amado. Brasil, século xx

Era uma vez três irmãs. 

Era uma vez três irmãs: Maria, Lúcia, Violeta, unidas nas correrias, unidas nas gargalhadas Lúcia, a das negras tranças. Violeta, a dos olhos mortos; Maria, a mais moça das três. Era uma vez três irmãs, unidas no seu destino. 

Cortaram as tranças de Lúcia, cresceram seus seios redondos, suas coxas como colunas, morenas,  cor de canela. Veio o patrão e a levou. Leito de cedro e penas, travesseiro, cobertores. Era uma vez três irmãs. 

Violeta abriu os olhos. seus seios eram pontudos, grandes nádegas em flor, ondas no caminhar. Veio o feitor e a levou. Cama de ferro e de crina, lençois e a Virgem Maria. Era uma vez três irmãs. 

Maria, a mais moça das três, de seios bem pequeninos, de ventre liso e macio. Veio o patrão, não a quis. Veio o feitor, não a levou. Por último veio Pedro, trabalhador da fazenda. Cama de couro de vaca, sem lençol, sem cobertor, nem de cedro, nem de penas. Maria com seu amor. 

" Era uma vez três irmás: Maria, Lúcia, Violeta, unidas nas gargalhadas, unidas nas correrias. Lúcia com seu patrão, Violeta com seu feitor e Maria com seu amor. Era uma vez três irmãs. diversas no seu destino. 

Cresceram as tranças de Lúcia, caíram seus seios redondos, suas coxas como colunas, marcadas de roxas marcas. Num auto pela estrada cadê o patrão que se foi? Levou a cama de cedro, travesseiros. cobertores. Era uma vez três irmãs. 

->Fechou os olhos Violeta com medo de olhar em torno; seus seios bambos de pele, um filho pra amamentar. No seu cavalo alazão, o feicor partiu um dia. nunca mais há-de voltar. Cama de ferro se foi. Era uma vez três irmãs. 

Maria, a mais moça das três, foi com seu homem "pro" campo. prás plantações de cacau Voltou do campo, era a mais velha das três. Pedro partiu urn dia, não era patrão nem feitor. partiu num pobre caixão, deixou a cama de couro e Maria sem.seu amor. Era uma vez três irmãs. 

Cadê as tranças de Lucia, os seios de Violeca, cadê o amor de Maria ? 

Era uma vez três irmãs numa casa de putas pobres. Unidas no sofrimento, unidas no desespero, Maria, Lúcia, Violeta, unidas no seu destino. 

Jorge Amado (1912-2001)- Terras do sem fim, 1942. 

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Commentaires
J
Passaram muito mais de 40 anos depois que li "As terras do Sem Fim". A gestação das cidades, de entre tudo o mais, nunca deixou de estar na minha memória. É impossivel ler e continuar a pensar na mulher, e não sentir como este mundo tão injusto, ainda continua a sê-lo, mais, muito<br /> mis, com as mulheres.<br /> <br /> Na mesma altura li "O Cavaleiro da Esperança",<br /> que precisaria para ser o homem que sou?
D
Três irmãs tristes, em seus destinos diversos, que desembocam na mesma história. Seria belo se não fosse trágico. Abraços do Daniel
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